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A ditadura da beleza no mundo das Plus size

Por Mabel Freitas

Ao contrário do que muitas pessoas acreditam, a moda Plus Size não surgiu recentemente. O termo, que foi utilizado pela primeira vez em 1920, pela marca norte-americana Lane Bryant, se refere ao estilo e biotipo de pessoas consideradas acima do peso. Apesar de ser associada a uma moda inclusiva e voltada para pessoas gordas, as modelos desse segmento, comprovam que, na prática, isso não funciona bem assim. 

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Modelo desde 2016, a estudante de direito, Hyandra Calixto, sempre fez fotos de rosto e outros trabalhos, mas em 2018 passou a investir na carreira de modelo, e foi quando descobriu que esse novo estilo não era tão inclusivo quanto ela imaginava. “Apesar de ser Plus Size, ainda há muita cobrança. Algumas marcas pedem pra eu engordar, outras outras já recomendam o uso de cintas para disfarçar a barriga. Por incrível que pareça há um padrão no plus size, barriga reta, quadril largo e etc.” comenta a estudante. 

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A busca constante pelos padrões impostos pelo mundo da moda, independente de ser plus, várias modelos sofrem pressões que as levam a cometer uma série de atitudes negativas para a saúde física e mental. “Quando entrei para o plus, eu fui cobrada a engordar. Chegaram a me pedir para ir a rodízios, parece absurdo, mas ouvi várias vezes que eu deveria comer mais. Isso me afetou, pois quando achei que seria aceita do jeito que sou, vem alguém e impõe padrões.” comenta a modelo. “Para mim, esses pedidos para engordar soam como quando se pede para que a modelo magra, pare de comer. Não acho saudável.” afirma. 

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Essa cobrança pelo corpo ideal para as marcas plus, fizeram a jovem passar por uma série de transtornos. “A cada trabalho eu ficava tensa, não queria lidar com a rejeição, foi quando minha compulsão alimentar voltou a me tirar do eixo. Além dos constrangimentos para atender as expectativas da marca e do mercado, a estudante compartilha a competitividade e a diferença de tratamento entre as modelos. “ Quase sempre sinto que sou tratada diferente das modelos magras. Eu sou sempre a que sai sem o brinde.” comenta a estudante relembrando situações que já viveu. “Era bizarro eu ali vendo todo mundo ganhar um mimo por ter feito o mesmo trabalho que eu.” 

 

Após sofrer para conseguir fazer parte da indústria, a estudante de direito passou a selecionar melhor os trabalhos que deseja participar. “Isso está mudando, pois não me submeto mais a isso. Prefiro não fazer o trabalho do que me sentir mal com isso.’’

"Quando entrei para o plus, eu fui cobrada a engordar.

Chegaram a me pedir para ir a rodízios"

A modelo plus size, M. S, que preferiu não se identificar por ainda estar diretamente envolvida com a indústria, compartilhou a sua experiências e as dificuldades vividas por quem almeja se tornar modelo Plus Size profissional. “Na minha primeira experiência eu fiquei bem em conflito com tudo o que eu achava que conhecia sobre Plus Size. Eu sempre achei que era um universo libertador, mas até mesmo as modelos plus sizes precisam se aproximar do padrão das magras. Pediram para as modelos usarem cinta, e se habituarem a dormir e acordar de cinta. E isso fazia eu me questionar “Eu estou saindo de um padrão de beleza para entrar em outro?”, afirma a modelo ao relembrar os primeiros ensaios que participou.  


Apesar de ainda participar de ensaios e continuar investindo na carreira, a estudante já passou por algumas dificuldade em relação à profissão. “O universo plus size deveria ser um universo acolhedor, e não foi isso que aconteceu comigo. As marcas sempre escolhem as modelos mais magras. Recentemente foi anunciada a nova modelo plus size da victoria´s secrets e foi tipo um soco no estômago. É a Bárbara Palvin e ela é magra. O mundo plus size também é gordofóbico.” pontua.
 

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